sábado, 9 de maio de 2020

Racismo à brasileira: as questões atuais e o acirramento das lutas das minorias

Debater racismo no contexto atual, talvez seja mais complexo do que há poucos anos atrás. O crescimento de um grupo de extrema direita pseudo-conservador, nas bases dos governos, que nitidamente odeia pobre e preto acirrou enormemente as relações sociorraciais no Brasil. Parece que não é mais vergonhoso se dizer preconceituoso. Nos estudos da escola paulista de Sociologia, em meados da década de 1960-1970, encomendado pela Unesco, se comprovou a hipótese do Brasil ser um país racista, porém o racismo à brasileira aparecia de formas sutis e entranhado no cotidiano, toda via, era notável que a sociedade brasileira tinha “preconceito de ter preconceitos”, dessa forma, então as pessoas negavam as suas pequenas doses preconceituosas, apesar de continuar a praticá-la diuturnamente, enquanto os negros continuavam buscando formas de resistir em um mundo criado para lhe explorar ou lhe matar. 

Os movimentos negros se dedicaram de diversas formas para denunciar a farsa da democracia racial no Brasil, que esse país não era um paraíso harmônico das três raças formadoras, que a nossa “democracia” era inexistente se levarmos em conta que tínhamos uma sociedade que se dedicava em criar um projeto de extermínio para a população negra, primeiro relegando ela a pobreza extrema, depois ao subemprego, a exploração, ao vício e a criminalidade. Quem ousava sair desse ciclo é prontamente atacado por estereótipos que dificultava a ascensão aos estudos e a uma carreira mais promissora.

Diante da pressão dos movimentos negros, no contexto de ascensão de governos de esquerda houve 
avanço em políticas públicas como a obrigatoriedade do ensino de história africana e dos afrodescendentes, a política de cotas e a criação das secretarias de igualdade raciais, no entanto os privilégios da elite branca foram mexidos e as máscaras dos “cidadãos de bem” caíram por terra revelando a cara mais espúria da classe média, que arquitetaram um golpe a república. 

Analisar a realidade dada na atualidade brasileira e retroceder um pouco no tempo, para os negros, não tem uma diferença tão profunda, afinal é nítido que houve avanços na questão do acesso e do consumo. Mas realmente estamos em um país menos racista? Os governos de esquerda produziram uma sociedade mais igualitária? As diversidades estão sendo mais respeitadas? As respostas são negativas. E são assim porque não investimos realmente em campanhas sistemáticas de combate ao racismo. 

Culturalmente ainda construímos murros de exclusão da população negra, reproduzimos estereótipos que naturalizam a inferiorização desse grupo, cristalizando-os no lugar do animalesco, do ignorante ou de classe perigosa. Não avançamos em criar um mundo que realmente racialize os processos de construção do cotidiano e das relações sociais. Não é à toa que temos no governo federal, no congresso nacional, nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais representantes governamentais que não se fazem de rogados em vociferar os mais profundos despautérios contra as minorias. Mesmo com todas as aberturas promovidas pelas políticas públicas não resolvemos a questão de a maioria dos representantes que ocupam os poderes legislativos, executivos e judiciários ainda ser composto por um maioria de homens brancos saídos das classes privilegiadas, herdeiros de fortunas construídas a partir da exploração escravista. 

Como podemos falar em mudança dentro de um país que não se envergonha de ter uma desigualdade tão grande, que tem agentes de segurança pública treinados para matar e perseguir pretos e pobres, que utilizam de redes sociais para espalhar notícias falsas e revisionismos 
históricos embasados em mentiras. Ainda temos muito que avançar na discussão sobre o racismo no Brasil, precisamos escancarar e encarar essa problemática de frente, só teremos mudanças reais quando realmente tivermos uma educação antirracista, quando os brancos tomarem 
conta do seus privilégios, quando falarmos abertamente que esse país é racista e explorador

Elissânia Oliveira

Disponível também em: https://www.dropbox.com/s/7ce2rsdp44x27dq/Edi%C3%A7%C3%A3o_abril20.pdf?dl=0

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O amor é uma obra de arte

Quando o olhar encontra outro. Nasce a primeira fagulhas do amor. Não é o amor em si. É uma promessa do que ainda existirá. É como a primeira pincelada do pintor buscando trazer ao mundo uma imagem que estava sendo vislumbrada somente em seu cérebro. Não é a pintura final, nem é uma pintura ainda, é só uma promessa. Mas é essa promessa que as pessoas seguem. Essa é a fagulha de amor. Segue por curiosidade, por excitação, por vontade de experimentar o futuro e vai experimentando toda vez que o olhar se cruza, que as mãos se tocam, que as palavras soam, que os corpos se sentem e se tornam um. E assim as fagulhas ou as pinceladas vão construindo as imagens. A construção do amor/pintura pode durar para sempre enquanto há vida dentro dos amantes. Mas as imagens, às vezes, ficam prontas quando há muita vida a viver...e a imagem finalizada não faz mais sentido, então as pinceladas/fagulhas são analisadas, e às vezes vistas como sinais de desamor porque  tem defeitos, falhas, deficiências de percursos. E o quadro está lá pronto e acabado, porém ainda tem vida, mas o olhar não se cruzam mais, as mãos não querem se tocar, os corpos já não sentem prazer na junção. As fagulhas já não mais existem e assim os amores acabam. Cabendo as pessoas observar a imagem criada, aprender com ela, amar a imagem mas não mais o objeto que deu vida a obra e seguir agradecendo o amadurecimento dos seres. Podem também querer destruir a imagem criada por conta dos seus defeitos ou só ver as imperfeições da obra criada, aqui cabe também um aprendizado. O de não precisar conviver com os quadros criados, mesmo que estes façam parte da criação do pintor que o indivíduo se tornou. Então o amor e o desamor são criações que são feitas de escolhas. Eu escolho não destruir os meus quadros, mas escolho seguir em frente para continuar criador, de oportunizar a existência de outras fagulhas (ou pinceladas) e vivenciar a arte/amor nascer tantas vezes mais quanto for necessário para ser feliz.

Elissânia Oliveira


terça-feira, 5 de maio de 2020

Sinto falta de amar

Sinto falta do amor...sinto falta de amar
De aperto de mão...do aconchego
Do abraço...de braços nos ombros
Do riso solto
De ser livre

Sinto falta do calor...sinto falta de amar
De olhar...do olho no olho
Do arrepio...de subi e descer
Do suor depois do ato
De ficar trêmula... Sem ar

Sinto falta do peito...Sinto falta de amar
De escutar o coração...tututututu
De enrolar o dedos nos pelos
De sussurrar...quero mais!
De querer o seu querer junto com o meu querer.

Elissânia Oliveira