sábado, 18 de setembro de 2021

o vento da cidade

O vento da cidade. 
Vem! Bate no meu rosto. 
Me faz pensar na singeleza do ser. 
Me constrói em mim e em tantos que vieram hoje e que ao meu lado se faz muralha. 
O vento da cidade. 
Vem! 
Me transmuta nos meus e me faz forte. Me faz ser , sendo tempestade.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Se me quiseres conhecer
                                                       Para Antero

Se me quiseres conhecer,
Estuda com olhos de bem ver
Esse pedaço de pau preto 
Que um desconhecido irmão maconde
De mãos inspiradas
Talhou e trabalhou em terras distantes lá do norte.

Ah! Essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida
boca rasgada em ferida de angustia,
mãos enorme, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado feridas visíveis e invisíveis
pelos duros chicotes da escravatura…
torturada e magnífica
altiva e mística,
africa da cabeça aos pés,
– Ah, essa sou eu!

Se quiseres compreender-me
Vem debruçar-te sobre a minha alma de africa,
Nos gemidos dos negros no cais
Nos batuques frenéticos do muchopes
Na rebeldia dos machanganas
Na estranha melodia se evolando
Duma canção nativa noite dentro

E nada mais me perguntes,
Se é que me queres conhecer…
Que não sou mais que um búzio de carne
Onde a revolta de africa congelou
Seu grito inchado de esperança.
 
Noémia de Sousa