terça-feira, 1 de setembro de 2020

Olhar

Parei em um instante e vi seus olhos...negros como a noite.
Mergulhei naquele olhar que me fita e faz eu me sentir linda.
Vejo o meu reflexo ali dentro e me sinto bela porque aquele olhar me fita.
Será que aquele olhar, sempre vai me olhar?
E se não me olhar...será que eu me olharei?
E se me olhando...vou me reconhecer?
E se eu me reconhecer...vou gostar de mim?
E se eu gostar de mim... será que vou me respeitar?
E se me respeitar...O olhar que eu nunca vou esquecer será aquele que me fita do espelho e me diz para eu continuar.

Elissânia Oliveira

domingo, 5 de julho de 2020

Ser tempo

Quero ser tempo

Tempo de ser eu. 

Tempo de ser livro. 

Tempo de ser lida. 

Tempo de ser livre.

Tempo para amar. 

Ter tanto tempo 

Para perder tempo

Sem tempo

De Parecer tempo 

Ser tempo de não se importar

Sempre tendo tanto tempo assim.


sábado, 27 de junho de 2020

Maturidade no corpo-alma

Me vejo aqui, mulher preta. Meus traços juvenis as poucos estão se esvaindo. Não lembro ao certo quando novos traços mais maduros apareceram. O tempo faz isso, devagarinho, te transforma em um rosto diferente. O meu corpo é meu, mas ele não era assim quando lembro de mim. A vida vivida se faz presente nas marcas corporais, pouquíssimas vezes nos atentamos a isso, pensamos que a maturidade se apresenta na forma que nos comportamos e nas palavras que proferimos, mas não. Ela se faz presente também nas nossas expressões, esses dois risquinhos entre as minhas sombrancelhas falam muito sobre a intensidade do meu falar. As marcas que salientam as minhas bochechas dão indício do meu sorriso largo que mostram todos os meus dentes. Minhas curvas com suas estrias e celulites, entregam uma pessoa pouco afeita a exercícios físicos e alimentação saudável. O meu corpo e me alma se complementam. Eles tem caminhado moldados pela minha consciência de mim e do mundo ao meu redor. Tudo em um sintonia do que é ser eu.

sábado, 9 de maio de 2020

Racismo à brasileira: as questões atuais e o acirramento das lutas das minorias

Debater racismo no contexto atual, talvez seja mais complexo do que há poucos anos atrás. O crescimento de um grupo de extrema direita pseudo-conservador, nas bases dos governos, que nitidamente odeia pobre e preto acirrou enormemente as relações sociorraciais no Brasil. Parece que não é mais vergonhoso se dizer preconceituoso. Nos estudos da escola paulista de Sociologia, em meados da década de 1960-1970, encomendado pela Unesco, se comprovou a hipótese do Brasil ser um país racista, porém o racismo à brasileira aparecia de formas sutis e entranhado no cotidiano, toda via, era notável que a sociedade brasileira tinha “preconceito de ter preconceitos”, dessa forma, então as pessoas negavam as suas pequenas doses preconceituosas, apesar de continuar a praticá-la diuturnamente, enquanto os negros continuavam buscando formas de resistir em um mundo criado para lhe explorar ou lhe matar. 

Os movimentos negros se dedicaram de diversas formas para denunciar a farsa da democracia racial no Brasil, que esse país não era um paraíso harmônico das três raças formadoras, que a nossa “democracia” era inexistente se levarmos em conta que tínhamos uma sociedade que se dedicava em criar um projeto de extermínio para a população negra, primeiro relegando ela a pobreza extrema, depois ao subemprego, a exploração, ao vício e a criminalidade. Quem ousava sair desse ciclo é prontamente atacado por estereótipos que dificultava a ascensão aos estudos e a uma carreira mais promissora.

Diante da pressão dos movimentos negros, no contexto de ascensão de governos de esquerda houve 
avanço em políticas públicas como a obrigatoriedade do ensino de história africana e dos afrodescendentes, a política de cotas e a criação das secretarias de igualdade raciais, no entanto os privilégios da elite branca foram mexidos e as máscaras dos “cidadãos de bem” caíram por terra revelando a cara mais espúria da classe média, que arquitetaram um golpe a república. 

Analisar a realidade dada na atualidade brasileira e retroceder um pouco no tempo, para os negros, não tem uma diferença tão profunda, afinal é nítido que houve avanços na questão do acesso e do consumo. Mas realmente estamos em um país menos racista? Os governos de esquerda produziram uma sociedade mais igualitária? As diversidades estão sendo mais respeitadas? As respostas são negativas. E são assim porque não investimos realmente em campanhas sistemáticas de combate ao racismo. 

Culturalmente ainda construímos murros de exclusão da população negra, reproduzimos estereótipos que naturalizam a inferiorização desse grupo, cristalizando-os no lugar do animalesco, do ignorante ou de classe perigosa. Não avançamos em criar um mundo que realmente racialize os processos de construção do cotidiano e das relações sociais. Não é à toa que temos no governo federal, no congresso nacional, nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais representantes governamentais que não se fazem de rogados em vociferar os mais profundos despautérios contra as minorias. Mesmo com todas as aberturas promovidas pelas políticas públicas não resolvemos a questão de a maioria dos representantes que ocupam os poderes legislativos, executivos e judiciários ainda ser composto por um maioria de homens brancos saídos das classes privilegiadas, herdeiros de fortunas construídas a partir da exploração escravista. 

Como podemos falar em mudança dentro de um país que não se envergonha de ter uma desigualdade tão grande, que tem agentes de segurança pública treinados para matar e perseguir pretos e pobres, que utilizam de redes sociais para espalhar notícias falsas e revisionismos 
históricos embasados em mentiras. Ainda temos muito que avançar na discussão sobre o racismo no Brasil, precisamos escancarar e encarar essa problemática de frente, só teremos mudanças reais quando realmente tivermos uma educação antirracista, quando os brancos tomarem 
conta do seus privilégios, quando falarmos abertamente que esse país é racista e explorador

Elissânia Oliveira

Disponível também em: https://www.dropbox.com/s/7ce2rsdp44x27dq/Edi%C3%A7%C3%A3o_abril20.pdf?dl=0

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O amor é uma obra de arte

Quando o olhar encontra outro. Nasce a primeira fagulhas do amor. Não é o amor em si. É uma promessa do que ainda existirá. É como a primeira pincelada do pintor buscando trazer ao mundo uma imagem que estava sendo vislumbrada somente em seu cérebro. Não é a pintura final, nem é uma pintura ainda, é só uma promessa. Mas é essa promessa que as pessoas seguem. Essa é a fagulha de amor. Segue por curiosidade, por excitação, por vontade de experimentar o futuro e vai experimentando toda vez que o olhar se cruza, que as mãos se tocam, que as palavras soam, que os corpos se sentem e se tornam um. E assim as fagulhas ou as pinceladas vão construindo as imagens. A construção do amor/pintura pode durar para sempre enquanto há vida dentro dos amantes. Mas as imagens, às vezes, ficam prontas quando há muita vida a viver...e a imagem finalizada não faz mais sentido, então as pinceladas/fagulhas são analisadas, e às vezes vistas como sinais de desamor porque  tem defeitos, falhas, deficiências de percursos. E o quadro está lá pronto e acabado, porém ainda tem vida, mas o olhar não se cruzam mais, as mãos não querem se tocar, os corpos já não sentem prazer na junção. As fagulhas já não mais existem e assim os amores acabam. Cabendo as pessoas observar a imagem criada, aprender com ela, amar a imagem mas não mais o objeto que deu vida a obra e seguir agradecendo o amadurecimento dos seres. Podem também querer destruir a imagem criada por conta dos seus defeitos ou só ver as imperfeições da obra criada, aqui cabe também um aprendizado. O de não precisar conviver com os quadros criados, mesmo que estes façam parte da criação do pintor que o indivíduo se tornou. Então o amor e o desamor são criações que são feitas de escolhas. Eu escolho não destruir os meus quadros, mas escolho seguir em frente para continuar criador, de oportunizar a existência de outras fagulhas (ou pinceladas) e vivenciar a arte/amor nascer tantas vezes mais quanto for necessário para ser feliz.

Elissânia Oliveira


terça-feira, 5 de maio de 2020

Sinto falta de amar

Sinto falta do amor...sinto falta de amar
De aperto de mão...do aconchego
Do abraço...de braços nos ombros
Do riso solto
De ser livre

Sinto falta do calor...sinto falta de amar
De olhar...do olho no olho
Do arrepio...de subi e descer
Do suor depois do ato
De ficar trêmula... Sem ar

Sinto falta do peito...Sinto falta de amar
De escutar o coração...tututututu
De enrolar o dedos nos pelos
De sussurrar...quero mais!
De querer o seu querer junto com o meu querer.

Elissânia Oliveira

terça-feira, 14 de abril de 2020

Ele fala de amor e de sonhos

Cada folha que cai, cada noite que acaba, em cada amanhecer penso em você.
Durante o almoço e no fim do janta penso em você
Corrigindo provas, fazendo avaliações, em meio as leituras penso em você.

Da varanda

Os dias tem sido calmos e rápidos. Vejo o sol nascer e logo lá está ele dando adeus em mais um dia de distanciamento social, onde assisto tudo de minha varanda. Os carros passam, os cachorros latem e os gatos de rua parecem tranquilos. E eu fico pensando comigo que louco uma pandemia! E me posto reflexiva diante das novidades da calmaria-rapidez da vida que passa da minha varanda. Será que as coisas voltam? E como voltam? Será que serei a mesma? Será que é urgente as coisas que eu queria e que agora está suspensa? Muitas perguntas em um momento que minha vida se restringe praticamente dentro das paredes do meu apartamento. Durmo tarde, estudo e escrevo, home office, será que esse tipo de trabalho se aplica a mim? Penso em quem não pode fazer isso? me distraio mais uma vez. Nossa, tem gente que não come e uma vez eu li "quem não come, some"...deve ser por isso que pode morrer se for para a economia não parar. Mas não para para quem morre?

Elissânia Oliveira

Sobre a vida em isolamento

Se alguém anos atrás, poderia ser até ano passado, me dissesse que iríamos atravessar uma pandemia de alcance mundial certamente diria que era loucura. Isso só de pensar na pandemia, porque a gente não pensa nas consequências e impactos disso nas várias formas de vivenciar o mundo e as relações sociais.
Estamos reinventando o cotidiano. Às formas de sentir, de se relacionar, de comer, de dormir, de morar e de trabalhar. E o turbilhão de sentimentos e sensações que isso traz. 
Há duas semanas deixei de sair para trabalhar e passei a trabalhar em casa, que significa transformar minha casa, meu porto seguro, lugar onde me desestresso em lugar de ânsia e cobrança.
Há duas semanas, que meu celular, minhas redes sociais e email se transformou em ferramentas de trabalho. A Internet antes necessária se transformou em algo indispensável.
Há duas semanas, penso em como ser um boa professora. Imaginar estratégias e métodos em EaD. Me redescobrir como professora e também imaginar se os estudantes estão bem. Eles tem acesso a net? Como estão vivendo? Será que estão em isolamento? Estão estressados? Ser juventude é tão complexo.
E agora estou escrevendo um desabafo após saber que terei que fazer vídeos conferências e vídeo aulas, chamando as pessoas do meu trabalho para dentro da minha casa, para o meu universo particular. As relações se estreitam. Será que estou preparada? Não sei...mas continuamos que o mundo tá freando, mas não tá parado

Isolamento e seus sinônimos

Isolamento, teu sinônimo é saudade. Saudade da casa da mãe e do peixinho do domingo. Saudade dos aulas e dos alunos reclamando perguntando porque eu não faltei. Saudade da minha casa refúgio e não home office. Saudade das quintas feiras na casa da melhor amiga. Saudade das sextas feiras no bar do seu neném com os amigos do bairro. Saudade das reuniões do sábado e de planejar "fogo nos racistas", que pena que nunca pomos esse em prática. Saudades de um cotidiano agitado e cheio.

Isolamento, teu sinônimo é arte. Arte que salva-me do tédio. Agora fico aqui com paredes, músicas, livros e o toque cotidiano do celular, debruçada sobre o computador e mil e uma noias na cabeça. 

Isolamento, teu sinônimo é preocupação. preocupação com quem não tem o que comer, com quem precisa sair para trabalhar, com quem não pode para, pois vidas dependem de suas vidas.

Isolamento, teu sinônimo também é necropolítica. Que escolhe quem vive e quem morre. Quem serve é quem não serve. Quem é de berço e quem não é de berço. E assim a política, a economia e a desigualdade social recolhe os mortos dessa pandemia e eu percebo quanto dos meus estão perecendo dia a dia.

Elissânia Oliveira

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Eu Lírico e a Pseudoliberdade

O meu Eu lirico...nunca soube...nunca me ensinaram. A rotina é mais dura que isso. Pessoas de verdade...deixam a poesia para depois. Para quando a vida está mais amena quando a alma não é mais pequena. E o preço do feijão? Quanto tá o feijão? Será que tem dinheiro para o fim do mês? O patrão já disse...o governo permitiu! Férias adiantadas...salários? Não! O governo já disse é só uma gripe... Não mata não...Só se você tiver uma doença anterior...mas aí não é culpa do vírus! É culpa de quem? Tem que buscar culpados ou soluções? 
Ai como eu queria um Eu lírico agora. Um Eu lírico que fosse capaz de suspender a verdades escabrosas e será que é para isso que o Eu lírico serve? Já disse não me ensinaram isso! Nem pseudônimos e nem um tantão coisas de outros pseudos...Mas ando...ando por aí...e os encontro como a dona pseudoliberdade. Essa me ensinou. Me ensina. E acho que sempre ensinará...sabe o que? Ilusões! Ilusões e utopias de liberdade e igualdade. É isso que o Eu lírico...aquele que não aprendi me diz. Ele vai baixinho, aqui no meu pé de ouvido e diz baixinho: "Vai passarinho, finge que é poetisa e canta lá no mundo. Diz que a alma tem muiteza e que um dia. Ah! Uma dia. Tudo será melhor!."

Elissânia Oliveira